20 abril 2010

Designer de moda ou Estilista?
Pequena reflexão sobre a relação entre noções e valores do campo da arte, do design e da moda.

CHRISTO, Deborah Chagas. Designer de moda ou estilista? Pequena
refl exão sobre a relação entre noções e valores no campo da arte, do design
e da moda. Artigo. IN: PIRES, Dorotéia Baduy (org.). Design de Moda
Olhares diversos; Barueri: Estação das Letras e Cores Editora, 2008.

Prof. MSc. Deborah Christo

Graduada em Desenho Industrial pela ESDI. Mestre em Design pela PUC. Atua no mercado como designer gráfico, e em projetos de conceituação de marcas. Expositora em congressos e simpósios. Seu interesse em pesquisa concentra-se na aplicação da COR no design de produto e gráfico, e a relação entre arte e design. Docente nos cursos de graduação e pós-graduação na Faculdade SENAI/CETIQT.

A autora claramente nos convida a refletir sobre as questões que fundamentaram toda a história do design e sua relação com movimentos sociais, com períodos de extrema importância para a relação de consumo e com a evolução tecnológica que todo este percurso. Nos leva, ainda, a interpretar as considerações feitas com relação ao que é arte, ao que é design, quais as diferenças essenciais entre estilista e design de moda, entre artista e artesão e de qual o papel do design em todo este contexto.
Demonstrando conhecimento do assunto, inicialmente cita questões acadêmicas e curriculares que limitavam o campo de atuação do design de moda.
A relação que existe entre as características do design de produto e algumas noções pertinentes ao campo da moda é levantada acertadamente pela autora. Ambos fundamentam seus projetos com inovação, multifuncionalidade, estilo etc. Soluções funcionais com a forma ideal.
Outro ponto bem defendido no artigo é a criação desprendida totalmente da funcionalidade, produtos que visam simplesmente o estilo, buscam incentivar o consumo e fomentam a fugacidade das criações.
A análise feita da relação entre o estilista e o design de moda demonstra que a autora acredita em um enfoque artístico (subjetivo) do primeiro e puramente comercial (objetivo) do segundo. Neste aspecto, há que se verificar que não se pode retirar por completo a característica artística fundamental para ambos.Em certa parte do artigo a autora se prolonga em aspectos históricos, remontando ao séc. XV e chegando até os dias de hoje, não deixando de citar a visão de Bourdier e sua “ teoria pura de arte” que traz o artista como criador e gênio e o vincula apenas à arte. Por outro lado cita o discurso de Maldonado que entende o design como atividade de planejamento, importando-se com os materiais, custos e principalmente com a produção, ou seja, um olhar pragmático e cientifico que vai de encontro à visão de design como arte.Cita também Rafael Cardoso que defende os objetos como formas de suprir não só nossas necessidades objetivas mas também subjetivas. Objetos carregados de significados variáveis dentro do contexto, vistos como mais que simples estruturas funcionais. Por fim, a autora não deixa de enfatizar o valor indiscutível do projeto, fundamental para a produção, sem desprezar, no entanto, o fato de que a arte é essencial para a inovação e busca pela superação de velhas formas. Talvez por isso, os designers sejam vistos como artistas de talento e suas criações ganhem valor de verdadeiras obras de arte.
Conclusão
A autora atinge com sua análise os diferentes campos de atuação do design e possíveis definições. Aborda conteúdos relevantes, especialmente conceitos de design que estão cada vez mais inseridos no universo da moda. Por conta do design estar inserido no campo das artes, adota características que influenciam a sua estrutura e na forma como ele é percebido pela sociedade. Cita também a forte influência modernista sobre o design no Brasil, levanta questões formais e funcionais, que por tempos afastaram o design da arte e de conceitos relacionados à moda.

BOMFIM, Gustavo Amarante. Idéias e formas na história do design: uma investigação
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